segunda-feira, 28 de novembro de 2005

CLARO QUE É ROCK

Rio de Janeiro, 27 de novembro de 05

Tenho coisas mais importantes à fazer, então tentarei ser breve nos relatos dos shows deste último fim de semana. O tempo que fiquei na praia antes do show e as coisas que fiz por lá não interessam. Pulo para a Cidade do Rock, local onde foi realizado o festival.
Entrei bem antes de os portões serem abertos ao público e nem dei meu ingresso na portaria, ele está intacto, aqui ao meu lado [na verdade está no meu quarto] como lembrança. Não interessa como fiz isso, são coisas que acontecem aos membros do Coletivo P.U.T.A. . O que importa é que este é mais um sinal da desorganização do festival. A mesma desorganização que resultou em duas horas de atraso para que o primeiro show começasse e no cancelamento do show da NAÇÃO ZUMBI. Tentaram colocar a banda para fechar, mas os pernambucanos não aceitaram tocar às 4 da madrugada, depois de todas as atrações internacionais.

Bla bla bla



A cena que vi aos se abrirem os portões foi uma das mais engraçadas do ano: um monte de menininhas e menininhos, de visual ¿punk mtv¿, correndo para se agarrarem às grades do palco onde o GOOD CHARLOTTE tocaria. Era cerca de 15:30. o show deles estava marcado para 17:45, após o CACHORRO GRANDE, que abriria a maratona de shows. Um puta sol de rachar, em apenas algumas horas de praia eu peguei um bronzeado bacana. E os otários ficaram grudados naquela grade, sob aquele sol torrando, para ver a porcaria do GOOD CHARLOTTE (detalhe: o show deles começou depois das 20:00. Hahaha. )



Devido a problemas com equipamentos o CACHORRO GRANDE teve de abandonar o palco B e foi tocar no palco A, onde o GOOD CHARLOTTE já havia passado som e tudo. Mais espera. Por volta das 19 horas os gaúchos começaram a tocar. Fizeram um ótimo show, muito melhor do que eu esperava. Suas músicas funcionam muito bem ao vivo: rock and roll sessentista esporrento, num misto de Beatles, The Who, Zombies, até chegar aos mais recentes Oasis e Franz Ferdinand. Um som nada original, mas bastante divertido. Ouça ¿um dia especial¿ e tente não perceber a incrível semelhança entre ela e ¿the importance of being idle¿, do mais recente álbum do Oasis. Ou então, escute aquela música do CACHORRO GRANDE em que no clipe eles estão em um trem e tente não se lembrar de uma certa banda escocesa que lançou seu segundo e ótimo álbum a pouco tempo e que está cotada para abrir os shows do U2 no Brasil em 2006.
Logo após tocarem a ótima ¿sexperienced¿, do 1º álbum, o CACHORRO GRANDE emendou uma cover da naturalmente esporrenta ¿helter skelter¿ de vcsabequem para fechar. Fóda! Guitarra e baixo jogados no chão, microfonias e stage dive do baterista depois, está acabado o primeiro show do dia. Quer dizer, noite. Ou melhor, está acabado o primeiro show que era para ser de dia mas foi de noite.



Uma hora depois entraram os americanos do GOOD CHARLOTTE. Como todas as bandas estrangeiras que tocaram no CQÉR eram americanas, não preciso repetir isto aqui depois. O show deles foi um saco, por isso nem vou perder meu tempo escrevendo as dezenas de piadinhas ironizando a banda que me vieram à cabeça. Também poderia escrever linhas e mais linhas sobre o absurdo número de pessoas extremamente idiotas que existem no mundo, sobre o absurdo nível de idiotice das mesmas ou sobre a absurda chatice do sotaque dos cariocas, mas não vou. Preguiça. Só de lembrar do guitarrista gêmeo da banda babando ovo do Brasil, fico enjoado. Mas apesar de tudo, tocaram uma música boa: ¿i just wanna live¿.



Após a sessão tortura de pop punk acabar, era a hora [teoricamente] da NAÇÃO ZUMBI. Então resolvi ir pegar um lugar bom para o ver o THE FLAMING LIPS. Enquanto via (e ouvia, obviamente) a banda passar o som, ouço alguém dizer ¿o FANTÔMAS ta no palco!¿. Viro e ao mesmo tempo, Mike Patton e seus comparsas iniciam seu terrorismo musical. Em menos de um minuto saio e frente do palco B e vou parar entre as 7 primeiras fileiras de pessoas em frente ao palco A.
Você não consegue ver o baterista da banda, a não ser pelo telão. Uma enorme bateria o deixa escondido. São inúmeros pratos e três, 3, bumbos! Trevor Dunn e Buzz Osbourne ficam o tempo todo um ao lado do outro e Mike Patton fica ao lado, envolto por duas mesas cheias de aparatos tecnológicos à serviço do barulho e da vontade do idiossincrático Patton. Todos amontoados no canto esquerdo do palco.
É difícil não manter um sorriso no rosto durante o show dos caras. Principalmente para quem é fan de FAITH NO MORE, de metal e de barulho. FANTÔMAS é a banda mais barulhenta que conheço. Não há letras, apenas grunhidos, gritos, onomatopéias. 30 segundos de trash metal do caralho, interrompidos por ruídos ensurdecedores, enquanto Patton sorria feliz para a audiência. Era mais ou menos isso o que se repetia durante todo o show. Uma puta mistura de metal, ruídos eletrônicos, improvisações, música experimental, canto gregoriano e até bossa nova.
Conversando com o público sempre em português, Patton chamou o festival de ¿claro que é merda¿, disse que o rio é a cidade mais bonita do mundo e fez uma homenagem a João Gilberto: começou cantando ¿ela é carioca, ela é carioca...¿ com uma base bossa ao fundo, que pouco depois virou metal e se desconstruiu em barulho com muita distorção. Antológico. O show mais engraçado que já vi na vida.
A banda tocou pouco mais de 30 minutos e tiveram que deixar o palco. O público queria mais e o próprio Patton esboçou uma volta, mas foi interrompido por pessoas da (des)organização do festival. Bundões.

Um detalhe engraçado é que o baterista do B5 [sic!] estava atrás de mim [opa! sem sacanagem] durante o show, todo sorridente. Realmente, percebe-se muita influência do trabalho de Patton no B5. (se você não percebeu, estou sendo irônico) [é horrível ter de explicar minhas próprias piadinhas, mas não sei qual o nível intelectual de quem lê essa bosta. provavelmente é baixo, ou leria outra coisa].



O que veio a seguir foi o show que mais me impressionou até hoje: THE FLAMING LIPS. ¿o maior espetáculo da Terra¿, diria o Lúcio Boateiro Ribeiro. Mas tenho que admitir, é realmente a coisa mais bonita que já vi em um palco. Wayne Coyne entrando em sua bolha de plástico e caminhando pelo palco dentro dela, umas vinte pessoas vestidas de animaizinhos de pelúcia [tigre, macaco, cachorro, etc] pulando pelo palco, duas pessoas vestidas de sol de pelúcia, serpentinas voando sobre o público, muito confete e o telão ao fundo da banda completavam o circo organizado pela banda. o guitarrista-tecladista vestido de Papai Noel obeso, o baixista vestido de caveira com uma fantasia igual a usada pelo guitarrista do GOOD CHARLOTTE. E tudo ao som de uma trilha sonora bacana.
Mesmo sendo claramente uma banda desconhecida da maior parte das pessoas presentes, o FLAMING LIPS tomou de assalto as pessoas e a única comparação que me vinha à cabeça era o FAITH NO MORE no rock in rio 2, quando eram praticamente desconhecidos e saíram ovacionados. Situação idêntica.
As pessoas aprendiam a cantar na hora ¿Yoshmi battles the pink robots¿, ¿she don¿t uses jelly¿ e ¿do you realize?¿. Quem não sabia a letra cantarolava qualquer coisa, seguia a melodia onomatopéicamente, qualquer coisa: o importante era fazer parte da festa.



As músicas ficam mais pesadas e com o andamento um pouco mais rápido ao vivo, muito bom. Baixo distorcido, barulhos eletrônicos, guitarra levemente distorcida, criando o clima para o freak show ao redor.
Wayne Coyne canta com sua marionete de freira na mão, tem uma câmera no microfone que projeta seu rosto no telão, toca em teclado de criança (aquele que tem sons de vaca, pato, cachorro) e tudo fica bom. Um showman de mão cheia. incrível. Tudo que posso fazer agora é correr atrás dos cds da banda e agradecer a Brian Molko, do Placebo, por ter indicado o FLAMING LIPS para o festival. O que rola é que ele teria falado aos produtores que "o show do FLAMING LIPS é inigualável". Verdade.
Ah, ia esquecendo das covers. Bem no início do show tocaram um trecho de "bohemia rhapsody" do Queen e pouco antes de terminar, Wayne disse "defeat George bush" e iniciaram "war pigs" do Black Sabbath. Muito fóda.

THE FLAMING LIPS tocou por volta das dez horas do noite, mas os caras da bandas já estavam na Cidade do Rock desde cedo. Enquanto os roadies do CACHORRO GRANDE passavam som (antes da mudança de palco), Wayne já estava no palco, treinando com sua arma de atirar serpentina sobre o público.

Nossa! Escrevi demais e estou cansando. Vou tanter ser mais breve.



IGGY POP AND THE STOOGES foi mediano. Por que:
Em primeiro lugar: Iggy realmente já não passa de uma caricatura de si mesmo, uma vovó de jeans [feminino] apertado querendo causar algum impacto, fazendo poses e tentando incorporar um personagem batido.
Em segundo: deixaram de tocar ¿search and destroy¿. Como eles podem deixa-la de fora? É um dos maiores clássicos da história do rock! Também não tocaram ¿your pretty face is going to hell¿ e nem ¿raw power¿.
Terceiro: não tocaram músicas da carreira solo de Iggy.
Quarto: deixaram um saxofonista estragar várias músicas.
Mas tem gente que cai em qualquer uma e provavelmente você ouvirá por aí que foi o melhor show do ano. Tsc tsc.
Porém é claro que ouve coisas muito boas, como ¿tv eye¿, ¿i wanna be your dog¿ [duas vezes. Para quê? Por que não tocar ¿search and destroy¿ no lugar?] e ¿no fun¿. Essa, aliás, foi o melhor momento do show. Iggy começou a puxar algumas mulheres para o palco e a galera se empolgou. A cada minuto era mais gente no palco. Os caras subiam e começavam a correr pelo palco, as mulheres queriam beijar Iggy. Os caras do CACHORRO GRANDE, que assistiam o show do canto, se empolgaram e se jogaram no meio do palco também. Em meio a esta zona, um festival de cambalhotas e rasteiras, gente no chão e pulando, adivinhe quem aparece lá no fundo, para se juntar à festa? Ele mesmo, Wayne Coyne! Ele fica ao lado do amplificador do baixo, rindo da zona feita pelo povo. Assim que a música acaba e a galera volta para seus lugares, Wayne troca umas palavras com o baixista do STOOGES e se despede, enquanto sai do palco na maior calma.



SONIC YOUTH foi a maior decepção do Claro Que É Rock. Tocaram umas seis músicas desconhecidas da maioria e pronto. Só um monte de barulhinhos, o de sempre: microfonias, guitarras no chão, rastejos, bla bla bla. O mais engraçado foi ver o Thurston Moore ir ao chão com um câmera man e ficar sentado em cima do coitado, ¿tocando¿ sua guitarra.



Será o peso da idade? Já não têm mais gás para tocar coisas como ¿teenage riot¿, ¿silver rocket¿, ¿dirty boots¿ ou ¿kool thing¿? ou será que eles simplesmente não têm consideração alguma pelos fans brasileiros?
De qualqer modo, não foi ruim, mas não chegou nem perto do que se esperava.



E o NINE INCH NAILS? Este foi tudo que se esperava e mais. Um puta peso, o som ótimo, a bateria pesada e a distorção arrebentando seus ouvidos durante o show mais animado e longo do festival. O melhor ao lado do FLAMING LIPS.
Trent Reznor bombado e de cabeça raspada, empunhando sua guitarra durante boa parte do show, despejou hit atrás de hit, fazendo com que mesmo após horas de shows o público ainda pulasse. O show começou por volta das 3 da madrugada e disse que este era o show mais tarde que o NINE INCH NAILS já tinha feito em toda a sua história.



Deram destaque às canções mais animadas, o que significou na exclusão do material do ótimo The Fragile. Apenas duas ou três músicas deste álbum foram tocadas, entre elas ¿starfuckers¿, talvez o ápice do show.
No fim, baixista e guitarrista quebraram seus instrumentos e jogaram ao público, mas somente a guitarra estraçalhada alcançou o alvo. Caiu bem a meu lado e foi disputada por umas dez pessoas (inclua aí o ilustre Ernesto Jacques) que babavam espuma e pareciam disputar, famintas, um animal recém abatido. No fim os seguranças foram apartar a confusão e é bem provável que algum daqueles filhos da puta a tenha pego para si.

Aaaaaahhhhhhh! Agora chega! Acho que foi um resumo razoável. Se você não o achar, o problema é todo seu.

[ao som:
do novo do FRANZ FERDINAND
e de muito DEPECHE MODE, incluínd0-se aí os álbuns Ultra e Songs of Faith & Devotion]

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