sábado, 2 de dezembro de 2006

Bruno Nogueira (entrevista)

{ A entrevista abaixo foi feita com o Bruno Nogueira, jornalista do Folha de Pernambuco, que também mantém o site Pop Up!, dia 15 de novembro de 2006. O assunto foi música na internet e controle das gravadoras sobre a música pop }

> Fala-se muito nas possibilidades geradas pela internet para que os artistas independentes divulguem seus trabalhos e na "morte das gravadoras". Porém, ao se analisar a programação das rádios, é possível perceber que a maioria dos artistas veiculados são contratados de grandes gravadoras. Na sua opinião, é correto afirmar que no Brasil as gravadoras ainda controlam a música pop?

A música - e o mercado de música - no Brasil é tradicionalmente atrasado. Para ter uma idéia, a produção efetiva de música só chegou aqui no século XVII com a vinda da família real. Quando o Brasil começou a desenvolver suas próprias características, a ditadura militar fez um grande bloqueio no acesso a informação.

O que a gente vive é um reflexo disso. É correto afirmar que as gravadoras controlam a música pop sim, porque é um formato antigo e o Brasil não se adaptou ainda.

> Os últimos anos na Europa foram marcados pelo movimento das bandas que primeiro se tornam famosas na internet, de forma independente, para então assinarem com uma grande gravadora. No Brasil, o movimento contrário ocorre já a alguns anos, com artistas consagrados abandonando as majors. Qual seria o fator (ou fatores) determinante(s) para essas realidades díspares?

Lá fora, os artistas se lançam independentes, mas assinam com uma major sim. Lilly Alen foi assim, Franz Ferdinand e Interpol também foram assim.

O que não existe ainda, no Brasil, é esse olhar para a Internet. Exceto recentemente, quando o Moptop foi contratado pela Universal. Tirando esse novo caso, historicamente nenhum artista se deu realmente bem por ter se lançado online. O Cansei de Ser Sexy entrou na Trama, mas a Trama ainda é uma gravadora muito pequena.

( Bruno Nogueira, diretamente de seu Flickr )

> Sites como Trama Virtual e Fiberonline, apesar dos milhares de artistas cadastrados, ainda não catapultaram nenhum nome para o sucesso junto ao grande público. Isto pode ser considerado um reflexo dos veículos de massa e da mídia do entretenimento viciados e preguiçosos? Ou falta qualidade à produção independente nacional?

É um reflexo dessa mediações sim. Dizer que é porque são viciados e preguiçosos, no entanto, é arriscado demais. A questão é que o processo natural da música é bem lento, enquanto esse suporte digital é rápido demais. Ficamos querendo olhar para a esquina e ver o novo Chico Science. Lendo atentanmente o que é publicado sobre música nos jornais e revistas, todos tem tendencia de escrever como se tal artista fosse o novo definitivo. Quando não é assim.

Demorou para Chico Buarque chegar onde está. Demorou para Chico Science também. Nenhuma banda vai atingir o mesmo status com cinco anos de estrada e um disco e uma demo gravados. Precisa mais. Esses artistas que aparecem lá fora por causa da Internet, aparecem porque vivem num contexto social e economico totalmente diferente do Brasil. Se olhar com calma, os veiculos de mídia lá fora são tão "preguiçosos e viciados" quanto os nacionais.

Espero ter ajudado. Qualquer coisa, é só falar mais :)

abs

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